segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

A VITÓRIA ARGENTINA E O TRIUNFO SUL-GLOBAL NA COPA

 

 

A Argentina sagrou-se tricampeã mundial neste último domingo(18), com uma equipe regida pelo gênio e maestro Lionel Messi em cima da França de Mbappé. Uma final inesquecível de tirar o fôlego, um 3x3 histórico, em que por alguns momentos a fatura poderia estar liquidada pela seleção argentina, porém a reação francesa foi surpreendente, levando a partida à prorrogação e disputa de pênaltis. Muitos são os aspectos que podem ser descritos e analisados sobre esta final, bem como sobre esta copa no Qatar. Mas particularmente, chama a atenção a bela campanha de Marrocos, primeira seleção do continente africano a disputar uma semifinal. Africana e muçulmana. Com um estilo de jogo inspirado no coletivo, a equipe marroquina surpreendeu e eliminou adversários tradicionais, entre eles Espanha e Portugal. Embora tenha perdido a disputa pelo terceiro lugar para a Croácia, a campanha logrou êxito com um inédito 4° lugar no torneio.

Em termos geopolíticos, uma copa do mundo pode ser encarada como um bom momento para compreender questões políticas delicadas e históricas; tirando o ranço ideológico de parte da intelectualidade "de esquerda" que só enxerga o futebol e demais esportes como "alienação", cabe aqui fazermos uma ou duas reflexões acerca desta copa: 1. A presença sul-global triunfante nas semifinais e o consequente título da sul-americana Argentina e 2. A multipolaridade dentro de campo como afirmação inegável de um caráter de superação histórica frente à supremacia europeia ocidental. 

Não vamos aqui cair na tentação simplista identitária de atribuir o fator racial como principal atributo, como por exemplo a seleção francesa que terminou a final com dez jogadores negros em campo, com exceção do goleiro. A colonização francesa sobre o continente africano roubou riquezas, patrocinou golpes de estado, escravizou povos e ceifou milhares de vidas. A França ainda não pagou por este "preço", nem se sabe se algum dia irá pagar...se .a seleção francesa está recheada de afrodescendentes, a mesma coisa não se observa no governo daquele país. O iluminismo ainda é eurocêntrico.

Voltando à vaca fria, sobre os dois aspectos mencionados, ressaltemos que o primeiro aspecto( A presença sul-global triunfante nas semifinais e o consequente título da sul-americana Argentina), serve como metáfora ante a uma nova possível configuração de relações de forças políticas e econômicas. O BRICS, elevado a uma condição integradora de países subdesenvolvidos devido à condição de dependência econômica gerada pelas potências hegemônicas, se torna um fator crucial cada vez mais presente. Tomara que assim se afirme, até que não haja nenhuma sabotagem por parte de suas classes dominantes, sempre vendidas ao capital externo. E que também afirme a morte do imperialismo dos EUA em sua totalidade.

O outro aspecto(A multipolaridade dentro de campo como afirmação inegável de um caráter de superação histórica frente à supremacia europeia ocidental) tem a ver não só com a "diversidade" étnica, mas sim em termos de estabelecer uma igualdade de forças representadas pela independência e soberania dos países, respeitadas nos marcos desta nova ordem mundial. Ao passo que ao mesmo tempo, o futebol como parte integrante da indústria de entretenimento e capturado por sua lógica mercantil, sendo parte de uma sociedade do espetáculo, bem como centralizado na própria Europa e seus campeonatos de alto rendimento tanto futebolístico e financeiro, pode também sofrer um "abalo" diante desta nova configuração mundial; aí é uma questão de gestão de recursos, de profissionalização, de investimentos desde a base neste setor, para que deixemos aqui no velho terceiro mundo de sermos meros exportadores de matéria prima riquíssima, e possivelmente consigamos algum dia mantermos aqui, no Brasil por exemplo, nossos talentos jovens desfilando pelo maior tempo possível em nossos gramados e sua consequente identificação maior com seu povo e nação.

Para finalizar, muito aqui deste texto escrito sinaliza um desejo, um sonho; a LIBERTAÇÃO do jugo imperialista, de um poder supremo anti humano, baseada em relações de classe, impostas de cima pra baixo, com a falsa dicotomia vencedor/perdedor, a superação de um modelo ultrapassado, de exploração e deformador do caráter e da emancipação humana - que assim seja, e VIVAM OS POVOS OPRIMIDOS, CARAJO!

terça-feira, 13 de dezembro de 2022

ÍNDIO QUER APITO OU ÍNDIO QUER FUZIL?

 A condição do esvaziamento da luta dos trabalhadores e sua substituição pela luta de direitos civis vem provocando uma série de enfrentamentos e dilemas no espectro político da esquerda. A esquerda institucional, partidária, tem viés liberal e não confronta a natureza do sistema capitalista, buscando ao contrário, a sua adequação a este ou seja a tal "inclusão". 

Em nome da suposta "diversidade", o que temos aqui é uma colcha de retalhos, remendadas pela agulha do capitalismo liberal. 

Muito além da forma que visa a concessão desses direitos individuais, está o detrimento da luta coletiva enquanto classe; os sindicatos hoje em dia se tornaram peças mortas, pelegas, cativas do estado burguês e completamente distantes do ideal de emancipação dos trabalhadores do jugo do capitalismo.

Suplantado pela era do dito neoliberalismo, os direitos coletivos enfrentam uma barreira ideológica, onde sai do campo de luta a própria luta de classes em prol da "luta" individual. Bem ao gosto neoliberal.

Como consequência temos o surgimento do ingrediente do "identitarismo" como peça que move a engrenagem social e política que concede "espaço, visibilidade e cidadania", tido como um avanço da luta das minorias. Esse novo ingrediente praticamente sugou toda a capacidade de organização próprias de classe sendo endossado e incensado, inclusive pela mídia corporativa, mercado, publicidade, e também pelos próprios programas políticos partidários. Tanto da esquerda como da direita. Liberais em sua concepção "democrática" e "plural", de olho em futuros "rendimentos" eleitorais.

Seria como um "adestramento" comportamental, algo que suavizaria a penúria existencial de quem se não vê reconhecido na luta por sua classe. Aqui anula-se o componente ideológico de classe, transferindo para o universo particularizado da busca e realização do autorreconhecimento seja lá como for: através da afirmação positiva da cor da pele, da questão de gênero, da ancestralidade étnica, etc.

Dessa maneira temos aqui um monstro. Um bode colocado na sala pela influência dos think tanks estadunidenses que implantam modos de viver culturalmente impostos de cima pra baixo. O viés é imperialista, em que o controle não se dá tão somente pela presença de multinacionais na economia e finanças, mas por um colonialismo cultural, através da mídia e da indústria cultural. Um verdadeiro ataque à independência e soberania dos países, num plano de dominação traçado por estes organismos externos intervencionistas.

Tudo isso acima explicado para mencionar o quanto de bizarrice tal tendência é capaz de provocar de estranhamento e contradições ideológicas e até existenciais profundas. Quando a "identificação" se toma apenas pelo valor de face de seu nicho "ambiental" e individual ( cor da pele, gênero, etnia) perde-se a memória crítica histórica, e o passado é uma roupa que não nos serve mais, como diria Belchior. A identidade nacional e de classes aqui jaz...

Ou que de outra maneira poderíamos explicar, por exemplo, o apoio de uma liderança indígena a um governo de viés protofascista, ultraliberal e entreguista, predador da cultura nacional e originária, devastador da Amazônia e demais biomas? A aculturação neoliberal pariu esse monstrengo. O que diria o mestre Darcy Ribeiro nesta hora?

Nas manifestações bolsonaristas em Brasília na segunda-feira dia 12, contra a diplomação de Lula, a coisa descambou para a "baderna" e no meio da zona toda ocorreu a prisão do cacique xavante Serene, por incitar ataques ao recém eleito presidente. O que chama mais atenção é a sua devoção canina ao moribundo político e atual presidente Bolsonaro, quase como uma devoção sagrada, em que aqui Tupã deve ter se envergonhado de seu filho...

Este pode ser um pequeno e mero detalhe diante da bagunça que as ruas do Brasil se tornaram neste período pós-eleitoral, mas serve de amostra gigantesca do que podem provocar as chamadas guerras híbridas e seu desdobramento aqui numa guerra cultural ou revolução colorida. São personagens ativos, engajados, fustigados pela divisão política contribuindo pro esgarçamento do tecido social, estimulados pelas bolhas digitais e algorítmicas, onde o reino da falência cognitiva sepultou toda e qualquer manifestação de lógica e coerência discursiva.

O estrago está sendo feito não somente em nosso território nacional, mas em várias partes do mundo; mas quem diria que um dia iríamos ver um personagem representante de povos "originais" enaltecendo outro representante antagonista, filhote de uma classe dominante assassina histórica ? É apavorante quando nos deparamos diante desses mortos-vivos mentais e seus delírios que parecem dar demonstrações que nossa civilização já era...seja um empresário de si mesmo! seja um ativista profissional! proclame o terraplanismo com seu chapéu de alumínio, ou seu cocar! e peça intervenção militar!...que falta fez e faz uma Revolução !!!




terça-feira, 6 de dezembro de 2022

OS DONOS DO GADO E A ETERNA "BOIADA"

Recente matéria da Repórter Brasil revela uma lista de quem são os maiores megapecuaristas do Brasil, que juntos somados devem cerca de R$ 640 milhões de reais em multas ao Ibama, além de devastarem a Amazônia e manter trabalho escravo em suas fazendas. Confira no link:

https://nomeaosbois.reporterbrasil.org.br/

A matéria traz importante levantamento sobre o fenômeno que produz esse retrato de atraso do país: O comportamento latifundiário. Ainda são senhores de escravos, cujo DNA de proprietários remete a este período vergonhoso de nossa História. Das sesmarias ao agro. Passaram-se séculos e esta ferida aberta nunca foi tocada por governo algum. Afinal, a propriedade privada é "sagrada" nesse país, como é a vaca sagrada na Índia. Intocável.Uma verdadeira REVOLUÇÃO se tivesse que ocorrer no Brasil, necessariamente teria que passar pelo campo. Mais que isso: teria que começar pelo campo. Mas isso é tema para outro assunto....

1° de abril de 1964 - 60 anos do golpe civil-militar e o silêncio da ex-querda: covardia ou conivência?

  Há 60 anos, mais precisamente em 1° de abril de 1964 ocorria o golpe civil-miltar que depôs o então presidente João Goulart. Dali em diant...